24.18
Modesto Carone sobre Thomas Bernhard (Folha, 11.10.1996):
É curioso que, à medida que maldiz a história do mundo, o narrador dá seguimento a ela. As palavras e as frases, com que ele paga na mesma moeda o seu infortúnio e o daqueles por quem se interessa, são as cadeias com as quais ele próprio parece preso àquilo que condena com o ímpeto da simplificação polêmica. Mas tudo faz crer que não é bem assim, pois desta tábula rasa por atacado resta a arte verbal incumbida de executar a tarefa do desmantelamento. Escritores da têmpera de Bernhard, comprometidos com o seu tempo, dão a impressão de que só funcionam nessa situação-limite — como se a literatura que ainda conta se vingasse de um mundo que não precisa dela.
Leia na íntegra AQUI.
"Se você não me contar onde aprendeu a dançar rumba, está tudo acabado pra mim."
Ernst Lubitsch, sempre primoroso. “Anjo” (1937) é dos melhores. A qualidade da cópia linkada não é boa, mas não deve ser difícil encontrar outra que faça jus à fotografia de Charles Lang.
Judeu berlinense, Lubitsch já vivia e trabalhava nos EUA desde o começo da década de 1920. Emigrara contratado por Mary Pickford — uma das fundadoras da United Artists e da própria Academia — para dirigir “Rosita” (1923). Meu predileto de sua primeira fase (muda) em Hollywood é “O círculo do casamento” (1924), que ele próprio refilmou em 1932 como o musical “Uma hora contigo” (codirigido por George Cukor).
Entre “Alvorada do amor” (1929) e “O pecado de Cluny Brown” (1946), gosto de tudo que ele dirigiu, sobretudo de suas comédias cínicas e sofisticadíssimas, das quais “Ninotchka” (1939; coescrito por Billy Wilder) e “Ser ou não ser” (1942) são o que há de melhor. Ele também soube aproveitar muito bem a liberdade da era “pre-code” (do final dos roaring twenties até julho de 1934), isto é, antes que o maldito Código Hays impusesse regras de “decência” — CENSURA — às produções hollywoodianas. Talvez o melhor exemplo dessa virada seja “Sócios no amor” (1933). O filme aborda alegre e abertamente um trisal (perdão pelo anacronismo) e foi um grande sucesso de bilheteria, mas, pouco depois, teve o relançamento proibido graças aos esperneios da Legião da Decência.
Lubitsch morreu em 1947, aos 55 anos. Filmava “A condessa se rende” quando bateu as botas (ataque cardíaco), e o filme teve de ser concluído por Otto Preminger. Muito embora Lubitsch tivesse trabalhado por apenas oito dias nas filmagens, Preminger pediu que o crédito de direção fosse exclusivamente do colega. Um belo gesto. O problema é que ele não soube lidar com o material, e “A condessa se rende” é uma joça em technicolor. Preminger não sabia dançar rumba.
AQUI, um texto (em inglês) de Jean Eustache sobre “Ser ou não ser”.
Rogério Soares da Costa e um bom exemplo de falácia da falsa disjunção:
A pergunta “você prefere armas ou livros?” é constante nos debates públicos. A depender de sua resposta, o questionado é alocado na classe dos bons ou na classe dos maus. Se há algo que parece caracterizar os tempos atuais é certo infantilismo intelectual, uma recusa persistente a enxergar as complexidades e os limites intrínsecos da realidade em nome de slogans ou de chavões reconfortantes que têm por objetivo primário atuar como sinais externos e rasos de pertencimento a determinados grupos considerados a priori como representantes inequívocos da moralidade e da civilização.
Leia na íntegra AQUI.
Alguém me enviou isto (sacanagem associar coprofagia a um distinto coelhinho preto):
Beleza, então.
Uma dissertação de mestrado AQUI.